Dicas Médicas

segunda-feira, julho 18, 2005

A Brevidade que desejamos

Há tempos tenho pensado que médicos ainda são vistos como tendo um pouco de divino, talvez por conhecer o corpo humano e suas variações, pelo alívio da dor, por saber o significado de um sintoma, e às vezes curar, tudo isso ainda fascina as pessoas. Durante os atendimentos o que tem me surpreendido é que poucas são as situações que de fato mudamos instantaneamente embora as pessoas busquem respostas rápidas.

Tiramos a dor da cólica renal mas o tratamento da causa (litíase renal- “pedras nos rins”) depende de um conjunto de hábitos que deve ser adquirido pelo paciente e ainda do tamanho e tipo do cálculo. O alívio de uma falta de ar súbita (pneumotórax hipertensivo por exemplo) existe mas se esse vier acompanhado de um politrauma (paciente vítima de acidente automobilístico) o tratamento vai depender da evolução do paciente.

A arte da medicina consiste em saber o momento certo de intervir, esperamos a evolução do organismo do próprio paciente julgando o que é ou não favorável a ele. Assim, freqüentemente não podemos dar as respostas exatas às perguntas dos pacientes: Dr. quanto tempo de vida eu tenho? Quanto tempo vou ter que tratar? Dr. o que é que o senhor acha que eu tenho? (pergunta freqüentemente feita antes de terminarmos a história clínica e exame físico).

Certo dia, em um plantão noturno no hospital um pai de uma criança com pneumonia há 4 dias me perguntou se seu filho de 4 anos ia ficar bem. Fui olhar no prontuário e vi que o paciente estava respondendo bem aos antibióticos, no raio-X não havia complicação da pneumonia. Então expliquei a doença e o tratamento mas na hora de responder a pergunta feita pelo pai veio a clássica resposta: “Temos que esperar a evolução mas tudo indica que ele está respondendo bem e vá ficar curado”. Infelizmente, não pude dizer simplesmente que o tratamento dura dez dias e que ele iria bem pra casa em 6 dias. Embora tudo levasse a crer que isso ocorreria, existia a possibilidade de complicação. Ele poderia desenvolver uma pneumonia hospitalar, entrar em insuficiência respiratória e eventualmente ir a óbito em um CTI.
Mesmo com todos os impressionantes avanços da ciência, o que sabemos do prognóstico dos pacientes ainda são meras estatísticas.

3 Comentários:

  • Este comentário foi removido pelo autor.

    By Blogger Luiz Roberto Lins Almeida, at julho 18, 2005  

  • Vanessa, bem legal esse post; até dá pra fazer várias continuações, hehe... esse é um dos aspectos mais interessantes da Medicina...

    By Anonymous Anônimo, at julho 28, 2005  

  • Vanessa , talvez, nem sempre o paciente ou o acompanhante deste(pai, mãe, etc) queira ter resposta rápida. Mas ele precisa ter um referencial e ninguém melhor que o profissional da área para dar essa resposta. Acho muito boa a postura dos médicos hoje que dão a visão real da doença para seus pacientes. Antes havia muito "mistério". No meu caso, prefiro ouvir a explicação seja ela boa ou não. Porém, as perguntas são inevitáveis...pobres médicos... haja paciência né?

    By Anonymous Anônimo, at outubro 12, 2005  

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