Dicas Médicas

sábado, novembro 26, 2005


A opção pela morte resulta de fatores psíquicos, sociais, bioquímicos e genéticos. Mas os novos recursos da ciência e a determinação em lidar com o problema, juntos, são um poderoso salva-vidas.
Por Riad Younes

Dorme, que a vida é nada!
Dorme, que tudo é vão!
Se alguém achou a estrada,
Achou-a em confusão,
Com a alma enganada.
Fernando Pessoa
Alguns meses atrás conheci a senhora Marisa (nome fictício, para preservar sua identidade) na UTI do Hospital Sírio-Libanês. Sentava, cabisbaixa, semblante preocupado. Muito preocupado. Com muita razão. Seu filho, de 8 anos, estava internado há alguns dias por problemas decorrentes de um transplante de fígado.Fui chamado para opinar sobre uma complicação pulmonar simples. Resolvido esse episódio, conversei muito com a senhora Marisa. Jovem, inteligente, conhece tudo sobre a saúde do filho.O quadro clínico da criança não melhorava, e muitas vezes complicava. Eu já não cuidava mais do ! caso, mas, de vez em quando, passando na UTI, fazia uma rápida visita para saber como estava indo a criança. Independentemente do horário que eu passava, cedo, tarde, noite, feriado, a mãe sempre estava ao lado do leito. Vigilante. Preocupada.Um dia, passei na UTI, e a criança não estava no leito. Perguntei para a enfermeira de seu paradeiro. “Infelizmente faleceu hoje de madrugada”, respondeu. Senti pena da criança que sofreu muito. Senti pena da mãe. Varias semanas na tensão contínua ao lado de seu filho único.No dia seguinte, passei na UTI, como de costume, para ver os doentes lá internados. A enfermeira me chama. “Doutor Riad, sabe o que aconteceu ontem? A senhora Marisa morreu. Ela se jogou da varanda do hotel. Cinco horas depois de seu filho falecer.”Fiquei pasmo. Apesar de anos de prática médica numa área complexa, tratando pacientes graves! , com câncer, é raro ouvir falar de alguém que tenha se suicidado. A mesma experiência é relatada por outros médicos. O dr. Drauzio Varella, oncologista, há muitos anos trata pacientes com câncer dos mais diversos tipos. Ele afirma que “não é comum paciente com câncer se matar”. Ele próprio teve uma paciente portadora de um tumor maligno de ovário que se suicidou. O relato comovente desse caso está no seu livro, Por um Fio, recentemente lançado pela Companhia das Letras.

Mas suicídio não é raro. Mais de um milhão de pessoas a cada ano, ao redor do mundo, tiram suas vidas, pelos motivos mais variados. Esse número, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), ultrapassou em 2001 a soma das mortes violentas causadas por homicídio, guerras e conflitos regionais. Pior: boa parte dessas perdas de vida pode ser evitada.O suicídio não é um problema pessoal, individual. De Brutus a Vincent van Gogh (cujo auto-retrato, feito após o pintor ter cortado a própria orelha, ilustra, à pág. 47, a capa deste caderno), de Cleópatra a Getúlio Vargas, muitos cometeram suicídio, por um motivo ou por outro. Mas, atualmente, este é considerado um problema de saúde pública.“No Brasil, suicídios representam 1% de todos os óbitos, e chegam a 4% entre adolescentes e ! adultos jovens”, alerta o dr. Neury Botega, professor titular do Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, membro do Comitê de Especialistas da Organização Mundial da Saúde para a Prevenção do Suicídio e uma das maiores autoridades brasileiras em suicídio.
Obs; a continuação dessa matéria abordando outros aspectos sobre o suicídio será publicada nesse blog dentro de poucos dias.
Fonte:Revista CartaCapital

1 Comentários:

  • nossa Vanessa, nao tinha pensado por esse lado. Essa questão do suicídio. Ví varios casos na farmácia em que trabalho, de associações perigosíssimas que nao sao prescritas. Desde Slow K, um medicamento utilizado para retenção de potassio em pacientes hipertensos, onde a intoxicação pode levar a ICC, e morte súbita, até outras coisas mais graves. é uma pena. ahh, terminei a serie de post sobre o FAN e o HEP-2.

    By Blogger Fernando, at novembro 27, 2005  

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